“LIÇÃO DOS PÁSSAROS”, de Renato Rios Galerias 1, 2 e 3 Pavilhão II “OLHAR DE FRENTE O SOL”, de
Alexandre Furcolin Galerias 4 e 5 Pavilhão II
Abertura, sábado, 12 de março de 2022, 11-18h

A Galeria Karla Osorio apresenta duas exposições individuais simultâneas, ambas com a curadoria de
Rodrigo Villela.
São mostras de dois artistas representados “Olhar de frente o Sol” do artista Alexandre Furcolin e
“Lição dos Pássaros” do artista
Renato Rios.
A abertura será dia 12 de março, sábado, entre 11h-18h, com a presença dos artistas e do curador

Ambos apresentam apenas obras inéditas, a maioria criada no último ano e nunca expostas nem no
Brasil, nem no exterior. No caso de Renato Rios, pinturas à óleo em diversas dimensões aprofundando
sua pesquisa sobre a cor e a ancestralidade.

No caso de Alexandre Furcolin, pinturas em técnica mista, desenhos e fotografias. Dentre as
fotografias, a maior parte integra a série SÃO PAULO objeto de um livro recente lançado em Paris
sobre o artista, único latino americano selecionado para coleção FASHION EYE LOUIS VUITTON e o
livro será apresentado durante a exposição.

Sobre as exposições Veja abaixo breve texto curatorial de Rodrigo Villela sobre cada uma

“OLHAR DE FRENTE O SOL”
Individual de ALEXANDRE FURCOLIN

“[…] são lugares que não pertencem à geografia, mas ao tempo”.
Saul Steinberg

“A energia vital caótica da vasta produção artística de Alexandre Furcolin convida a
ver o mundo com olhos mais concentrados, diminuindo nosso campo de visão, focando – e sendo
afetados pela força da irradiação solar. Furcolin apresenta aqui um conjunto múltiplo de
trabalhos que trazem a luz do inédito em pinturas, fotografias e desenhos. Com traços
musicais de improvisação e domínio dos gestos, Furcolin preenche suas telas em linho cru como quem
desenha na terra: com gestos brutos em sulcos profundos, aplicando diferentes técnicas e inserindo
imagens fotográficas rasgadas e fragmentadas. Mas aqui a água do mar ou da chuva não apaga essa
escrita, só sugere movimento e fluxo vital em seus negros textos ilegíveis, acompanhados de cores
que fazem alusão aos principais elementos da natureza. Já os desenhos revelam um tipo de
composição que tratam de harmonia e do inesperado, com traços delicados, que não respeitam a
imobilidade. Clamam por vida e movimento, e até dançam sozinhos, sob nosso olhar.

Furcolin pinta, desenha e fotografa. Em cada uma dessas mídias, o artista investiga ambiências
oníricas que trazem o caos da cidade e a sabedoria da natureza. Numa escrita de garatuja ilegível,
o artista trabalha diversos meios para inscrever um novo alfabeto, e assim conciliar num mesmo
plano ritmos, volumes e cores inconciliáveis.
Dessa pulsão por cor, forma e sensação, o artista nos convida a um universo saturado que emana um
tipo de procura, em uma busca por estabelecer contato com sutilezas e estranhamentos do mundo.
Nessa direção, as paisagens são desenho, traço e enquadramento; os retratos são registros de feixes
de luz; e as pinturas são partituras eloquentes. Assim, as fotografias apresentadas conectam as
demais obras de maneira muito sutil e fina, não só pela reiteração de ambiências, composições e
escolha cromática, mas também pela confirmação da postura do artista: participante e observador.
Alexandre Furcolin nos guia para um mundo plural, diverso, genuíno. Desse embate,
Furcolin não se contenta com o registro documental do mundo. E se mostra mais que fotógrafo:
desenhista, pintor, artista. Se para Susan Sontag, “fotografar é em essência um ato de não
intervenção”, para Furcolin fotografar é também intervir e criar novos jogos visuais,
que vão além das pessoas, além da cidade — não para abarcá-la em sua totalidade, mas para rasgar
uma nova conexão com o entorno, a partir da sua intimidade. Ao ser um fotógrafo documental e
também intervencionista, Furcolin cria novas realidades, novos jogos poéticos vivos,
vitais.

Trabalhando a partir de distintas abordagens da linguagem fotográfica, relativas a
distintas atmosferas e assuntos, as múltiplas formas de abordagem para as imagens em suas
diversas mídias fazem com que sejamos guiados por essa energia do vento, que dá forma a
silêncio e ruído, sedução e repulsa — e assim reorganiza o caos, tornando-o ainda
mais complexo, e revolvendo a geografia ao tempo”.

“LIÇÃO DOS PÁSSAROS”
Individual de RENATO RIOS
A palavra lecionar vem do latim lectio, que significa leitura ou ensino. Este aprendizado com as
asas da natureza de Renato Rios traz o frescor do vento, a intemperança do voo e a liberdade. Nesse
contraste de equilíbrio e força, Rios nos apresenta em suas pinturas fortes tensões entre áreas
de cor, que mudam de atitude de acordo com a vizinhança. Esse jogo cromático amplamente
explorado ao longo da tradição pictórica – seja pelos renascentistas, com jogos de perspectiva e
campo, seja mais recentemente pelo venezuelano Carlos Cruz-Diez, que explora um mergulho profundo no universo da cor em si, ou mesmo
pelos céus intensos de Volpi ou ainda pela ambígua atmosfera cromática e refinada estrutura
geométrica de Paulo Pasta – Rios nos traz um jeito próprio de evidenciar e investigar
o que acontece entre esses dois espaços até então inexistentes. Ao lidar com a alteração do
temperamento das cores, Rios abre caminho com seus feixes coloridos, que voam como os pássaros no
inabarcável azul do firmamento.
Rasgando a atmosfera e abrindo espaço para o imaginário, Rios nos faz vivenciar novas experiências
cromáticas em suas telas abstratas, nos direcionando para um lugar metafísico: do mundo das coisas
para o mundo das ideias. Por outro lado, também faz o caminho inverso: por meio de elementos
surrealistas, evoca com plena liberdade símbolos que funcionam como cicerones neste voo lírico,
como um convite a uma jornada interna.
Para acessarmos a percepção da cor ocorrem muitos fenômenos simultâneos – visuais, emocionais,
intelectuais e sensitivos, mesmo que não nos demos conta. Esse tempo de percurso se dá na interação
entre a humanidade e o ambiente, e é depurado ao longo do tempo; associando às cores valores
e significados precisos. Assim, quanto mais tempo dedicamos, mais as cores vão ganhando
contornos subjetivos e singulares.
Sacralizando a vida, ritualizando a vivência, o sentir e o fazer, e mais, dialogando
com tradições autóctones de saberes tradicionais, que se avizinham em sua produção como um todo,
Renato Rios partilha do aprendizado e da jornada. E trata a pintura como tempo e espaço mítico,
dando voo a sua mitologia pessoal. Uma jornada adentro no azul intenso do fundo dos oceanos ou do
fundo do mar. Neste percurso, voar é a via de acesso incontrolável ao conhecimento fugidio do
mergulho e à procura pela trilha a se percorrer, num desejo pleno de expansão, na asa da matéria
radiante do aprendizado com a energia vital, levando consigo o anseio de conexão com a natureza
primeva.

Sobre os artistas
Alexandre Furcolin (Campinas, 1988):
Artista visual, nascido em Campinas-SP em 1988. Reside e trabalha em São Paulo desde
2005, onde desenvolve pesquisa artística através de fotolivros, instalações, desenhos e
esculturas site-specific que tem a linguagem fotográfica como ponto de partida. Seu trabalho
explora as fronteiras formais e discursivas da linguagem visual – a partir da relação entre
imagens, desenhos e pintura em diferentes suportes, escalas, time-frames e estruturas.
Alexandre publicou nove livros de fotografia, como -São Paulo- (2021, publicado em Paris
pela Louis Vuitton, coleção Fashion Eye, 2021), -Tangerina (2019, publicado pela Bessard
Editions, Paris), e – Casa Doze – (2015, publicado em São Paulo – participou da exposição
“Photo-Paged: On Brazilian Experimental Publishing” no Centre de la photographie Genève,
Switzerland). Dois de seus livros foram shortlisted no Prêmio Latinoamericano de Fotolivros, do
Foto Museo Cuatro Caminos – México (2017), e um shortlisted em ‘Felifa FOLA International Prize –
fototeca LatinoAmericana – Buenos Aires – Argentina(2017). Seu trabalho foi exibido em galerias e
espaços institucionais como – off Cairo Bienalle (2018 – Cairo, Egito), Centro Cultural São
Paulo (2017, Sao Paulo) , galeria A Gentil Carioca (2017, Rio de Janeiro) , Fauna Galeria (2016,
São Paulo). Já realizou três exposições individuais e diversas intervenções site-specific.
Participou de feiras de arte como ARTRio, SPArte e Paris Photo.

Renato Rios (Brasília, 1989)
É artista Visual e Bacharel em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília – UnB.
Em 2016 foi selecionado para participar do programa de Residência Artística da FAAP, ocasião
na qual se mudou para a cidade de São Paulo. Atualmente vive e tem atelier no bairro Consolação.
Esses anos de pesquisa e vivência na cidade de São Paulo foram povoados de experiências e trocas
muito significantes para o jovem pintor, como a rotina de trabalho como assistente da artista
visual Laura Vinci e do pintor Paulo Pasta, com os quais Renato trabalha atualmente e que tem
influenciado seu pensamento e produção.
Uma das características mais significativas de seu trabalho é sua pesquisa em pintura, arranjando
imagens figurativas e signos abstratos em séries, dípticos, polípticos, buscando tecer uma
noção de escrita poética e imaginação mítica. Em sua série de pinturas mais recente,
chamada Arquétipos, Renato tem procurado construir uma espécie de sintaxe visual
própria que, de certa maneira, sistematize o ambiente metafísico produzido em seu
trabalho dos últimos anos, conciliando diferentes correntes de
pensamento na constelação das idéias visuais que o conjunto apresenta.